É fato que
quando nascemos não sabemos de nada. Nossos pais, com muita paciência e
sabedoria nos ensinaram valores que julgavam importantes para a formação do
nosso caráter. E acredito que, dentre esses muitos valores está a gratidão. Tenho
certeza, que de alguma forma, você tem em sua mente memórias vivas ou mesmo
lapsos de lembranças, em que seus pais lhe orientaram a agradecer por algo recebido.
O fato é que, apesar
de termos entendido a importância da gratidão, muitas vezes temos uma atitude
ingrata diante das diversas situações de nossas vidas. Embora, desde a infância
termos sido ensinados, há um impulso pecaminoso dentro de nós que nos empurra a
ingratidão.
Tenho convicção
que uma das grandes dificuldades de desenvolvermos a gratidão está fundamentada
no autovalor que damos a nós mesmos. Aquele estado de merecimento que muitas
vezes não nos é percebível, mas é muito vivo em nossas ações.
Por exemplo:
quantos filhos tem o costume de agradecer aos pais por tudo o que eles têm
providenciado? Ou quantos filhos, mesmo depois de adultos, tiveram uma atitude
de gratidão? Talvez permeie em nossa mente que merecemos tudo o que os nossos
pais nos deram, e por isso, reclamamos quando a comida não foi do nosso gosto,
pois intrínseco a nós estava o sentimento de merecimento.
Esse estado de autovalor
não é diferente no nosso relacionamento com Deus. Quando algo sai errado, ou
mesmo uma coisa terrível acontece em nossas vidas, quem é a primeira pessoa a
ser questionada? Infelizmente, a resposta é Deus. Perguntamos: “como pode Deus
permitir que isso acontecesse em nossas vidas? Onde Deus estava?”.
Novamente, por
trás desse questionamento está o sentimento de merecimento e autovalor. É como
se fôssemos as melhores pessoas do mundo, e por isso, nada de controverso pode
acontecer conosco. Nós merecemos uma vida que seja composta apenas de alegrias,
conquistas e bonanças. E Deus ao permitir esses reveses está nos impedindo de
desfrutar da vida que mereço.
Isso é duro e
profano de nossa parte, mas é a realidade contida em muitas das nossas murmurações.
Não que devamos ser insensíveis às desventuras de nossas vidas. Mas, existe uma
diferença entre lamentar por uma perda mesmo que esse lamento seja direcionado
a Deus e reclamar pela perda.
Tenho certeza
que todos sabem que não somos merecedores de nada diante de Deus. Ainda estamos
vivos, porque a sua misericórdia se renovou mais esta manhã. Sabemos que nossas
obras de justiça são como o odor de sangue amortecido em lençóis que não foram
lavados. Somos perversos, maus, e tudo o que temos hoje e somos hoje, é fruto
exclusivo da graça de Deus. Precisamos reconhecer a nossa falta de valor, e
também o nosso imerecimento, e desenvolvermos uma atitude minutária de gratidão
a Deus, por todas as bênçãos e os infortúnios que chegam a nós.
Na primeira
carta de Paulo aos Tessalonicenses 5.18, o apóstolo diz que em tudo devemos dar
graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para conosco. Às vezes
estamos acostumados a agradecer apenas por coisas grandiosas, como um
livramento de um acidente, ou um assalto, ou por uma gravidez impossível, ou
uma aprovação em um vestibular. Mas o que Paulo nos exorta, é que Deus deseja
que agradeçamos a Ele por tudo.
As situações
simples da vida também são dignas de nossa gratidão. O fato de acordar vivo, de
sair e voltar para casa em paz, de ter um conjugue, de ter inteligência para
estudar, dentre vários outros aspectos que consideramos normais na vida.
Mediante isso,
gostaria de incentivar os irmãos a desenvolverem essa virtude de gratidão.
Estou certo que temos inúmeros motivos para agradecer a Deus, e nesse texto,
destacaremos três áreas em que a nossa gratidão pode ser demonstrada.
A gratidão deve
ser demonstrada pelas bênçãos recebidas de Deus. O salmista nos Salmos 136 ordena que devemos
render graças ao Senhor, por sua bondade e misericórdia. Dentre as várias
razões apresentadas no salmo, no verso 4, está a que Deus é o único que opera
grandes maravilhas.
Certamente Deus
tem realizado muitas maravilhas em nossas vidas, e por isso devemos sempre ter
um coração grato, principalmente pela maior maravilha que Deus realizou em nossas
vidas, a salvação.
Em segundo
lugar, também podemos agradecer a Deus pelos momentos difíceis da vida. Há
diversos Salmos que destacam a gratidão a Deus fundamentada na sua bondade e
misericórdia. De fato, não há dúvidas sobre a benignidade de Deus, mesmo quando
as situações são estranhas, ainda assim, podemos agradecer a Deus.
Talvez essa seja
a área mais difícil de expressarmos a gratidão a Deus. Quando recebemos, com a permissão
de Deus, algumas desventuras. Mas, ainda assim, podemos agradecer a Deus, mesmo
que não entendamos, ou mesmo que seja de extrema dor, é possível cultivarmos um
coração grato focando nosso olhar na bondade de Deus.
Para isso, te
convido a olhar a vida de Jó, homem íntegro, reto, temente a Deus e que se
desviava do mal. Além de ser o mais próspero de todos os do Oriente. Um homem
também com uma família linda e filhos que desfrutavam de uma amizade profunda.
Um dia, ao receber a notícia que havia perdido
seus bens e todos os seus filhos em um desastre, ele bendisse ao nome do
Senhor. No livro que leva o seu nome, capítulo 1.20-21 suas palavras estão
registradas para nos ensinar que é possível ser grato a Deus, mesmo em meio aos
infortúnios da vida.
“Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a
sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha
mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome
do Senhor”.
Jó não perdeu somente os filhos e os bens, mas
também sua saúde e a fé de sua esposa. E quando incentivado a amaldiçoar a Deus
por ela, novamente o seu ensino foi de gratidão apesar das mazelas de seu
corpo.
Mas
ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o
bem, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus
lábios. (Jó 2.10)
Com Jó, aprendemos que
mesmos em situações adversas, a nossa crença na bondade de Deus deve permanecer
intacta, e mesmo que não entendamos o porquê das situações, podemos continuar
firmes em Deus e com um coração conformado e grato com a vontade de Deus.
A terceira e última área em
que podemos desenvolver a gratidão é agradecer pelo que fazemos para Deus. Mesmo
não sendo nós os receptores, podemos sim, desenvolver um espírito de gratidão
pelo bem praticado ao outro, ou pelo serviço prestado a Deus.
Há uma história nas Escrituras
que nos apresenta um rei e o povo de Deus profundamente agradecido por terem
realizado algo para Deus. Este evento está registrado em 2 Crônicas 29. O rei
Davi estava fazendo os preparativos para a construção do templo, e após fazer
uma grande doação dos seus tesouros pessoais, desafiou o povo a contribuir
também.
O povo voluntariamente
atendeu ao convite de Davi e trouxe grandes tesouros para a construção do
templo. O verso 9 registra: “E o povo se alegrou das ofertas
voluntárias que estes fizeram, pois de um coração perfeito as haviam oferecido
ao Senhor; e também o rei Davi teve grande alegria”.
A ideia do
termo alegria é uma profunda satisfação com aquilo que eles realizaram. Tanto o
povo quanto Davi estavam com seus corações agradecidos por terem a oportunidade
de contribuir na construção do templo do Senhor. Essa gratidão nos corações levou Davi a louvar
e bendizer ao Senhor.
A gratidão se dá pela falta de mérito
em participar de uma obra tão grandiosa e de poder fazer algo para Deus.
Vejam suas palavras: 13 Agora,
pois, ó nosso Deus, graças te damos, e louvamos o teu glorioso nome. 14
Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos fazer ofertas tão
voluntariamente? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos. 15 Porque
somos estrangeiros diante de ti e peregrinos, como o foram todos os nossos
pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e não há
permanência: 16 Ó Senhor, Deus nosso, toda esta abundância, que
preparamos para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é
toda tua.
É certo que nosso senso de autovalor
e merecimento ofusca o brilho da gratidão que deve haver em nossos corações, e
precisamos ter muito cuidado, pois a ingratidão é uma característica presente
nas pessoas dos tempos difíceis dos últimos dias, conforme Paulo alerta Timóteo,
pessoas de mentes corrompidas, réprobas quanto à fé.(2 Tm 3.)
Que tenhamos a cada dia uma
vida de gratidão. Agradeçamos a Deus pelo bem, pelo mal e por aquilo que
podemos fazer para Ele.
Francisco Soares Teixeira Júnior
Juazeiro do norte, 13 de
junho de 2018.