sábado, 16 de junho de 2018

O Autovalor e a Gratidão



É fato que quando nascemos não sabemos de nada. Nossos pais, com muita paciência e sabedoria nos ensinaram valores que julgavam importantes para a formação do nosso caráter. E acredito que, dentre esses muitos valores está a gratidão. Tenho certeza, que de alguma forma, você tem em sua mente memórias vivas ou mesmo lapsos de lembranças, em que seus pais lhe orientaram a agradecer por algo recebido.
O fato é que, apesar de termos entendido a importância da gratidão, muitas vezes temos uma atitude ingrata diante das diversas situações de nossas vidas. Embora, desde a infância termos sido ensinados, há um impulso pecaminoso dentro de nós que nos empurra a ingratidão.
Tenho convicção que uma das grandes dificuldades de desenvolvermos a gratidão está fundamentada no autovalor que damos a nós mesmos. Aquele estado de merecimento que muitas vezes não nos é percebível, mas é muito vivo em nossas ações.
Por exemplo: quantos filhos tem o costume de agradecer aos pais por tudo o que eles têm providenciado? Ou quantos filhos, mesmo depois de adultos, tiveram uma atitude de gratidão? Talvez permeie em nossa mente que merecemos tudo o que os nossos pais nos deram, e por isso, reclamamos quando a comida não foi do nosso gosto, pois intrínseco a nós estava o sentimento de merecimento.
Esse estado de autovalor não é diferente no nosso relacionamento com Deus. Quando algo sai errado, ou mesmo uma coisa terrível acontece em nossas vidas, quem é a primeira pessoa a ser questionada? Infelizmente, a resposta é Deus. Perguntamos: “como pode Deus permitir que isso acontecesse em nossas vidas? Onde Deus estava?”.
Novamente, por trás desse questionamento está o sentimento de merecimento e autovalor. É como se fôssemos as melhores pessoas do mundo, e por isso, nada de controverso pode acontecer conosco. Nós merecemos uma vida que seja composta apenas de alegrias, conquistas e bonanças. E Deus ao permitir esses reveses está nos impedindo de desfrutar da vida que mereço.
Isso é duro e profano de nossa parte, mas é a realidade contida em muitas das nossas murmurações. Não que devamos ser insensíveis às desventuras de nossas vidas. Mas, existe uma diferença entre lamentar por uma perda mesmo que esse lamento seja direcionado a Deus e reclamar pela perda.
Tenho certeza que todos sabem que não somos merecedores de nada diante de Deus. Ainda estamos vivos, porque a sua misericórdia se renovou mais esta manhã. Sabemos que nossas obras de justiça são como o odor de sangue amortecido em lençóis que não foram lavados. Somos perversos, maus, e tudo o que temos hoje e somos hoje, é fruto exclusivo da graça de Deus. Precisamos reconhecer a nossa falta de valor, e também o nosso imerecimento, e desenvolvermos uma atitude minutária de gratidão a Deus, por todas as bênçãos e os infortúnios que chegam a nós.  
Na primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses 5.18, o apóstolo diz que em tudo devemos dar graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para conosco. Às vezes estamos acostumados a agradecer apenas por coisas grandiosas, como um livramento de um acidente, ou um assalto, ou por uma gravidez impossível, ou uma aprovação em um vestibular. Mas o que Paulo nos exorta, é que Deus deseja que agradeçamos a Ele por tudo.
As situações simples da vida também são dignas de nossa gratidão. O fato de acordar vivo, de sair e voltar para casa em paz, de ter um conjugue, de ter inteligência para estudar, dentre vários outros aspectos que consideramos normais na vida.
Mediante isso, gostaria de incentivar os irmãos a desenvolverem essa virtude de gratidão. Estou certo que temos inúmeros motivos para agradecer a Deus, e nesse texto, destacaremos três áreas em que a nossa gratidão pode ser demonstrada.
A gratidão deve ser demonstrada pelas bênçãos recebidas de Deus.  O salmista nos Salmos 136 ordena que devemos render graças ao Senhor, por sua bondade e misericórdia. Dentre as várias razões apresentadas no salmo, no verso 4, está a que Deus é o único que opera grandes maravilhas.
Certamente Deus tem realizado muitas maravilhas em nossas vidas, e por isso devemos sempre ter um coração grato, principalmente pela maior maravilha que Deus realizou em nossas vidas, a salvação.
Em segundo lugar, também podemos agradecer a Deus pelos momentos difíceis da vida. Há diversos Salmos que destacam a gratidão a Deus fundamentada na sua bondade e misericórdia. De fato, não há dúvidas sobre a benignidade de Deus, mesmo quando as situações são estranhas, ainda assim, podemos agradecer a Deus.
Talvez essa seja a área mais difícil de expressarmos a gratidão a Deus. Quando recebemos, com a permissão de Deus, algumas desventuras. Mas, ainda assim, podemos agradecer a Deus, mesmo que não entendamos, ou mesmo que seja de extrema dor, é possível cultivarmos um coração grato focando nosso olhar na bondade de Deus.
Para isso, te convido a olhar a vida de Jó, homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal. Além de ser o mais próspero de todos os do Oriente. Um homem também com uma família linda e filhos que desfrutavam de uma amizade profunda.
 Um dia, ao receber a notícia que havia perdido seus bens e todos os seus filhos em um desastre, ele bendisse ao nome do Senhor. No livro que leva o seu nome, capítulo 1.20-21 suas palavras estão registradas para nos ensinar que é possível ser grato a Deus, mesmo em meio aos infortúnios da vida.
“Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor”.   
Jó não perdeu somente os filhos e os bens, mas também sua saúde e a fé de sua esposa. E quando incentivado a amaldiçoar a Deus por ela, novamente o seu ensino foi de gratidão apesar das mazelas de seu corpo.
Mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios. (Jó 2.10)
Com Jó, aprendemos que mesmos em situações adversas, a nossa crença na bondade de Deus deve permanecer intacta, e mesmo que não entendamos o porquê das situações, podemos continuar firmes em Deus e com um coração conformado e grato com a vontade de Deus. 
A terceira e última área em que podemos desenvolver a gratidão é agradecer pelo que fazemos para Deus. Mesmo não sendo nós os receptores, podemos sim, desenvolver um espírito de gratidão pelo bem praticado ao outro, ou pelo serviço prestado a Deus.
Há uma história nas Escrituras que nos apresenta um rei e o povo de Deus profundamente agradecido por terem realizado algo para Deus. Este evento está registrado em 2 Crônicas 29. O rei Davi estava fazendo os preparativos para a construção do templo, e após fazer uma grande doação dos seus tesouros pessoais, desafiou o povo a contribuir também.
O povo voluntariamente atendeu ao convite de Davi e trouxe grandes tesouros para a construção do templo. O verso 9 registra: “E o povo se alegrou das ofertas voluntárias que estes fizeram, pois de um coração perfeito as haviam oferecido ao Senhor; e também o rei Davi teve grande alegria”.
A ideia do termo alegria é uma profunda satisfação com aquilo que eles realizaram. Tanto o povo quanto Davi estavam com seus corações agradecidos por terem a oportunidade de contribuir na construção do templo do Senhor.  Essa gratidão nos corações levou Davi a louvar e bendizer ao Senhor.
A gratidão se dá pela falta de mérito em participar de uma obra tão grandiosa e de poder fazer algo para Deus.
Vejam suas palavras: 13 Agora, pois, ó nosso Deus, graças te damos, e louvamos o teu glorioso nome. 14 Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos fazer ofertas tão voluntariamente? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos. 15 Porque somos estrangeiros diante de ti e peregrinos, como o foram todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e não há permanência:   16 Ó Senhor, Deus nosso, toda esta abundância, que preparamos para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é toda tua. 
É certo que nosso senso de autovalor e merecimento ofusca o brilho da gratidão que deve haver em nossos corações, e precisamos ter muito cuidado, pois a ingratidão é uma característica presente nas pessoas dos tempos difíceis dos últimos dias, conforme Paulo alerta Timóteo, pessoas de mentes corrompidas, réprobas quanto à fé.(2 Tm 3.)
Que tenhamos a cada dia uma vida de gratidão. Agradeçamos a Deus pelo bem, pelo mal e por aquilo que podemos fazer para Ele. 

Francisco Soares Teixeira Júnior


Juazeiro do norte, 13 de junho de 2018.