terça-feira, 21 de junho de 2016

O Crente e o São João



No mês passado, em maio, um membro de nossa igreja me perguntou: “É errado comemorar festas juninas?” De imediato dei minha resposta, mas antes de declará-la, gostaria de trazer algumas informações para aqueles que, porventura, estejam com dúvidas sobre esse assunto.
A Festa de São João, hoje conhecida como “a mais brasileira das festas”, não nasceu em solo nacional. Sua origem remonta às celebrações pagãs, anteriores ao Cristianismo, realizadas no solstício de verão – 21 de junho, no Hemisfério Norte – em que se comemorava a colheita. “Com a expansão do Império Romano e a consequente disseminação do Cristianismo, as celebrações pagãs foram revestidas pelo manto da Igreja Católica, tornando-se festas de santos. A de São João foi uma delas”, explica Maria Celeste Mira, antropóloga da PUC-SP, especializada em cultura popular.
Trazida ao Brasil pela Corte portuguesa, a Festa de São João, que na Península Ibérica tinha e ainda tem um caráter mais devocional, sofreu um processo de aclimatação. Ganhou elementos simbólicos, que lhe deram um ar dramatúrgico. A quadrilha é um exemplo. “Derivada da dança da nobreza cortesã francesa – há referências disso na quadrilha, como as expressões anarriê, anavantu -, ela não existe nas festas de São João em outros lugares do mundo”, afirma Edson Farias, sociólogo da Universidade de Brasília (UnB). O mesmo acontece com o casamento caipira, que reforça a ideia de regionalidade. “Marcadamente, há uma cena tradicional nordestina: o pai é uma espécie de coronel, o noivo é um caipira, roceiro, sertanejo, mas também é um malandro; a noiva representa a virgem, e o pároco remete à figura do Padim Ciço”, explica Farias. Os folguedos, segundo ele, servem para integrar a população que, em vez de ocupar uma posição passiva, de espectadora, participa, fazendo a festa.
De acordo com Elizabeth Christina de Andrade Lima, antropóloga da Universidade de Campina Grande, especializada em festas populares brasileiras, o São João teve início no Brasil como um evento privado. “Os senhores de engenho montavam a festa e convidavam amigos e agregados”, diz. As celebrações foram crescendo – de uma comemoração familiar passou a ser da comunidade – até se tornarem públicas.
A festa era muito forte no País inteiro, mas recuou nas demais regiões. “No Nordeste, ela se aliou a elementos que lhe deram suporte, por exemplo, o forró. Além de contribuir para a definição de uma identidade regional, passou a ser um produto musical concorrido a partir do sucesso de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês”, explica Farias. Ele afirma que, no final dos anos 1980, com uma redefinição da política nacional de turismo, mais descentralizada e com a ideia de potencializar recursos locais, as festas de São João – que na verdade representam todo o ciclo junino – se tornaram o principal foco de atração turística de muitas cidades nordestinas, como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE).
(GIANNINI, Deborah. A origem da Festa de São João. Disponível em http://brasileiros.com.br/2011/07/a-origem-da-festa-de-sao-joao/. Acesso em 18 de junho de 2016.)
Diante de tais informações sobre a festa de São João vamos responder à pergunta inicial: “ É errado comemorar o São João?” Sim. Não convém comemorar festas juninas.
A primeira razão porque não comemoramos o São João é devido à sua origem. Como mencionado anteriormente, essa festa tem sua origem pagã. Os povos pagãos não reconheciam a providência como vinda de um único Deus, mas dos diversos deuses; em suas comemorações à fertilidade da terra e às grandes colheitas, havia a prostituição cultual (embora não esteja presente na festa de São João).
Todavia, você pode questionar: Por que realizamos a ceia, que era também uma comemoração pagã? A isso explicamos: A ceia que celebramos não está fundamentada na cultura pagã de ter comunhão com os deuses, mas na Festa da Páscoa, que fora estabelecida por Deus, comemorada e projetada por Jesus para agora simbolizar o sacrifício que Ele realizaria firmando um Nova Aliança com o seu povo.
Ainda, como também foi mencionado, é um período em que a Igreja Católica faz homenagem ao santo João Batista, assim como aos santos Antônio e Pedro. Essas homenagens são as chamadas 'festas juninas'.
Mas o Natal, a Páscoa também não são festas católicas que crentes em Cristo também comemoram?  Tanto a Páscoa quanto o nascimento de Cristo são festas que foram comemoradas antes de o termo católico ser identificado como temos hoje. Na verdade, a Igreja iniciou como uma igreja só e, como nos conta a História, somente séculos depois houve uma divisão mais precisa. Então, Páscoa, Natal, não são necessariamente festas católicas, são celebrações bíblicas.
Então não devemos celebrar nenhuma festa para agradecer a Deus pelas bênçãos materiais que temos recebido de sua mão providencial? Não necessariamente. Podemos sim, de forma bíblica e legítima, realizar cultos de gratidão a Deus por seus benefícios, tal como a Festa da Colheita que o povo de Israel, podendo ser celebrada em diferente momento das festas católicas aqui referidas.

A segunda razão porque não comemoramos o São João seria o formato mundano que ela adquiriu, como diz Deborah Giannini (jornalista e escritora): Ela nasceu pagã, foi incorporada às celebrações católicas, mas nunca deixou de ser mundana – pelo menos no Brasil.
    As festas juninas apesar de suas belas cores, são eventos culturais dirigidos por danças e festivais em que o estilo musical do forró predomina. Todos nós sabemos que o forró, além de ser uma dança sensual, está associado a outros elementos como bebida e promoção da promiscuidade.
    Os festejadores juninos certamente, não honram a João Batista em suas celebrações mundanas e, por vezes, cheias de perversão moral. Apenas reúnem-se para satisfazer os prazeres carnais.
    João Batista, nas informações que temos sobre ele, foi um homem de Deus, abnegado, decidido a honrar a Jesus sobretudo (João 3.30); foi morto por defender os princípios matrimoniais de Deus (Lucas 3.19-20).
    O que João Batista diria hoje aos festejadores seria o que ele disse à multidão que saiu para encontrá-lo no deserto da Judeia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”.
Esta era a mensagem de João às pessoas; uma mensagem de mudança de vida, de não dependência de religião, mas de uma produção de frutos de arrependimento. João foi muito claro quando falou que estava preparando as pessoas para a chegada de Jesus que iria batizá-los com o Espírito Santo, salvando os arrependidos e com o Fogo, julgando os mundanos e confiantes religiosos (Mateus 3.1-12).
João Batista desafiou os fariseus a não confiarem em sua religiosidade (Lucas 3.8), mas a produzirem frutos dignos de arrependimento. Ele também desafiou o povo a repartir seus bens com o próximo: quem tivesse duas túnicas deveria dividir (Lucas 3.11). Também os publicanos deveriam cobrar somente o que lhes era devido (Lucas 3.13). E ainda, os soldados não deveriam maltratar ninguém, não denunciar falsamente e estarem satisfeitos com o seu ganho (Lucas 3.14).

"É errado comemorar o São João?" Sim, é errado, pois é uma festa pagã e em nenhum momento honra a pessoa e a pregação de João Batista: "Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus" (Mateus 3:2).
Francisco Soares Teixeira Júnior



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